Quem cuida de quem ensina e cuida?

Reflexão: Inclusão, Desafios Docentes e o Adoecimento dos Professores no Contexto Escolar Contemporâneo
A imagem apresentada, com o título provocativo “E quem cuida da professora?”, retrata de forma simbólica e impactante o cenário enfrentado por muitos educadores na atualidade. No centro da ilustração, a figura da professora com expressão de esgotamento e vestindo uma blusa com a palavra “BURNOUT” chama a atenção para o crescente adoecimento mental e emocional dos profissionais da educação. Ao redor dela, estão estudantes etiquetados com siglas que representam diferentes condições e necessidades educacionais específicas: DI (Deficiência Intelectual), PC (Paralisia Cerebral), TDL (Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem), TEA (Transtorno do Espectro Autista), TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e TOD (Transtorno Opositivo Desafiador).
Esse cenário nos convida a refletir sobre os desafios impostos pela política de inclusão escolar, que visa garantir o direito de todos à educação, respeitando as diferenças e necessidades de cada aluno. A inclusão é uma conquista social e política fundamental, assegurada pela Constituição Federal de 1988, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996) e pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC, 2008). Contudo, essa implementação muitas vezes não é acompanhada do suporte necessário às escolas e seus profissionais, o que compromete a qualidade do ensino e o bem-estar dos educadores.
O aumento da demanda por atenção individualizada, adaptação curricular, elaboração de planos de ensino personalizados e mediação constante com diferentes profissionais da saúde e da assistência social sobrecarrega os docentes, que frequentemente não recebem formação adequada ou apoio pedagógico e psicológico para lidar com tais situações. O burnout docente – uma síndrome caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional – tem se tornado cada vez mais comum. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o segundo país com maior índice de burnout entre professores, evidenciando uma crise silenciosa que afeta diretamente a educação básica.
A pergunta colocada na imagem – “E quem cuida da professora?” – revela a negligência com a saúde mental dos profissionais da educação. A escola inclusiva não pode ser apenas um ideal retórico; ela exige estrutura física, formação continuada, contratação de profissionais de apoio, tempo para planejamento e, sobretudo, políticas públicas que reconheçam o papel central do professor na efetivação de um ensino de qualidade para todos.
Assim, propõe-se alguns questionamentos: Como as redes de ensino têm preparado seus professores para a inclusão? Existe investimento suficiente em saúde mental e valorização docente? É possível sustentar uma educação inclusiva sem o cuidado com quem ensina?
É necessário que gestores, famílias, pesquisadores e a sociedade como um todo compreendam que a inclusão escolar não pode ocorrer à custa da saúde do professor. A construção de uma escola verdadeiramente inclusiva depende do cuidado com todos os seus atores, especialmente aquele que está na linha de frente da mediação do conhecimento: o(a) professor(a).
Referências:
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008.
OMS. Organização Mundial da Saúde. Classificação Internacional de Doenças – CID-11. 2022.
MASLACHA, C.; JACKSON, S.E. The measurement of experienced burnout. Journal of Organizational Behavior, 1981.